segunda-feira, 21 de abril de 2014

O que me move é a dor que não se vê

O que me move é a dor que não se vê, a dor de que não se fala,
a dor que não tem voz, anônima e insuportável
a dor de não ter sua dor revelada, de não fazer jus a dor relevante
a indignação, o desespero na face de cada um que se recusa a compreender que o senso comum não entende ser justa sua dor.
O que me move é me imaginar mendiga, indigente, ladra, bandida, puta, traficante, terrorista, mulher-bomba, suicida.

[e sempre penso nesta música do Chico]

Notícia de jornal
(Chico Buarque)

Tentou contra a existência
Num humilde barracão
Joana de tal, por causa de um tal João

Depois de medicada
Retirou-se pro seu lar
Aí a notícia carece de exatidão

O lar não mais existe
Ninguém volta ao que acabou
Joana é mais uma mulata triste que errou

Errou na dose
Errou no amor
Joana errou de João
Ninguém notou
Ninguém morou na dor que era o seu mal

A dor da gente não sai no jornal

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